segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Amor não escolhe idades [2º Capitulo]

Numa leve brisa matinal, Lúcia entrou no carro do amigo, como uma sobrevivente de um naufrágio salta para um salva-vidas. Com fervôr!

De certa forma, por mais que amasse a família e que entendesse o seu dever como filha, sempre ficou convencida que ela era apenas mais uma dentro de casa.

Os seus pais, especialmente o seu progenitor, nunca fizera qualquer esforço para a tentar copmpreender, para a tentar perceber. Para ele, Lucia era apenas uma jovem diferente das outras, uma jovem problemática que ele sinceramente não a percebia.

Nem sempre tinha sido assim. Quando ela era pequena, o pai era o heroi dela, e simultaneamente ela era o mais que tudo dele. Naquele tempo, com aquela idade, ele sabia sempre se ela tinha fome, sede ou se lhe apetecia algo. Agora, ele não sabe nada dela.

Nunca percebeu como alguem pode mudar assim, nunca se acostumou ao seu levantar de voz perante ele. As discussões eram inevitáveis.

Em todo este acto evolutivo, nunca o pai perguntou: " Lucia, precisas de algo?". Isso doi, e ela sentia-o.

Daí a importância de Miguel, do seu grande amigo. Do seu confessor.

Miguel era um dos raros homens que conseguira lhe oferecer um "porto de abrigo", uma "almofada" de segurança e nunca ela ousou colocar isso em causa, com uma improvável relação amorosa. Não que ele não fosse atraente, ou que não suscitasse nela uma certa atracção, mas o papel dele no seu Mundo, já estava entregue. Miguel era o seu amigo. O seu melhor amigo e nunca colocaria isso em risco.

Igualmente para Miguel, Lucia não era apenas uma jovem com quem ele se dava. Era a sua melhor amiga, alguem que o ouvia e que a ouvia. Havia entre os dois, uma sã cumplicidade, embora por diversas vezes, ele estivesse tentado a "ir mais além", a ousar apróximá-la, quem sabe a seduzi-la.

Um homem tem de saber interpretar os sinais, tem de saber entender o que vai na cabeça de outrém, mas por vezes é complicado entender as mulheres.

Ali sentado, ao volante da viatura, Miguel olhava-a pelo canto do olho. Lucia vestia a blusa branca que ele tanto gostava, as jeans apertadas com que sempre andava, que lhe realçavam as pernas bem delineadas. E o sorriso dela, sempre aberto, sempre radioso para ele:

-Combinei tam,bem com o Mauro e com a Joana.Pode ser?

-Sim, é bom estarmos com eles. Eu gosto da Joana.

-Como está tudo em casa? - Indagou Miguel de sobrolho levantado.

-Nem me fales disso. O costume nem se dignaram a dizer bom dia.

-Percebo.

-Oh pá, não sei o que esperam de mim. Nunca sei o que quererm de mim!

-Bom, pelo menos o teu pai não mandou vir contigo.

-Sim, mas é pior. Odeio quando ele me evita com o olhar.

O carro estacionou diante do café, onde o casal amigo já os aguardavam. Como habitualmente Lucia pediu uma água das pedras e um café e Miguel optou por um refrigerante.

Lucia conhecera Joana numa das suas saídas nocturnas e pouco tempo depois conhecera Mauro, quando ela o apresentou. Mauro era um tipo simples, mas Joana via nele um futuro engenheiro ou doutor.

A determinado momento da conversa, o assunto sobre a mesa recaiu na família e sobre o tema de Lar:

-Não vejo que o lar seja assim tão importante. – Explodiu repentinamente Lúcia.

-Porque não? – Sondou Mauro.

-Bom, acho que é um desses termos muito bonitos filosóficamente, mas para mim pouco inteligíveis no mundo real.

-No mundo real? – Indagou Joana.

-Sim. Tipo supostamente a ideia que devemos ter de lar é a mesma de natal, certo? A família toda reunida, a paz, a harmonia...

-Sim. Concordo com isso. – Apressou-se a incentivar o Miguel.

-Acontece que em muitos lares, não vejo isso. Creio mesmo que em poucos lares isso acontece. – Reforçou Lúcia

-Assusta-te o termo família? – Sondou Joana.

-Muito. Sabes, creio meso que para mim esse é outro conceito vago.

-Porque dizes isso? – Joana parecia surpresa.

-Imagina uma criança adoptada. A família dela seriam os pais adoptivos, ou a original?

-Não podes ir por aí. São coisas diferentes! – Avisou Mauro.

-Não acho que sejam. – Sentenciou Lúcia e sem perder fôlego continuou – Se pensarmos que o conceito família é no momento de criação ou nascimento de alguem, os laços que unem mãe e filho a outras pessoas, então família será forçosamente sempre a família original, ainda que a mãe seja apenas mãe solteira.

-Não. Família é o conjunto de pessoas que já têm laços afectivos entre si. Logo quando tu és adoptada passas a fazer parte de outra família, que doravante será a tua família. – Mauro tentava racionalizar o seu conceito.

-O que digo, é que a família hoje não existe, enquanto garante de Paz e harmonia. – Senteciou Lúcia.

Joana sorriu, num sorriso intrigante e dando-lhe a mão, opinou:

-Lúcia, estás com problemas em casa e talvez por isso fales assim. Mas perceberás que a família, qualquer que seja o termo, é um Universo ao qual precisas de pertencer.

-Não sou dessa opinião, Joana. Posso mesmo passar sem eles!

Miguel tossiu ao de leve e com um brilho nos olhos, propôs:

-Reparem, eu tenho a casa de campo dos meus pais vazia. Aproxima-se uma semana de puro tédio....Porque não vamos os quatro até lá. Passar umas férias?

Os quatro amigos entreolharam-se tendo Joana, bebido um pouco do seu sumo de laranja e com um sorriso enigmático, questionou:

-Porque não?


[Continua]

Sem comentários: